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a2a Memoriall 0062A - Firmiano de Moraes Pinto

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Biografia

Firmiano Pinto é o caso mais grave desta lista. É nome de rua no Belém, nome de vila no Ipiranga, busto de Luiz Morrone na Praça Buenos Aires, teve quase 40 anos de vida pública e ninguém hoje tem a mais remota idéia de quem seja. Não há uma única foto sua em lugar nenhum. Seu verbete no dicionário de ruas tem quatro linhas inúteis. Na Wikipédia, uma linha. E foi prefeito durante seis anos. Sete, se contarmos que chegou a ser intendente em 1894, antes da criação do cargo de prefeito! É daquelas figuras que, sem embargo do nome, do prestígio e da carreira, a história simplesmente engoliu.
 
Por que será? Firmiano esteve à frente da prefeitura durante os festejos do centenário da independência, durante a revolução de Isidoro, em 1924, durante o tenebroso governo do “poltrão de Viçosa”, Arthur Bernardes. É certo que em termos nacionais a prefeitura pouco significava, politicamente, mas mesmo assim, é de São Paulo que estamos falando. Talvez ele tenha passado seus dois mandatos descascando pepinos partidários, já que era figura de relevo no PRP e não lhe tenha sobrado tempo para grandes realizações. Pode ter feito tantos inimigos que seus méritos foram cuidadosamente escondidos depois do golpe de 30. Ou talvez tenha se preocupado com a manutenção do que já havia ao invés de construir ainda mais. Ou — não podemos excluir esta hipótese — ele era apenas um fazendeiro burguesão do PRP, velho e entediado, que não fazia nada a não ser jogar e beber no Automóvel Clube junto à sua patota de milionários. Não faço idéia. Qualquer uma dessas hipóteses pode ser verdadeira.
 
Firmiano, em pé, entre Joaquim Guimarães Natal
(de terno claro) e Zeferino de Faria
Para não dizer que não sei nada sobre Firmiano, encontrei na Fon Fon fotos suas inaugurando o monumento “Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo”, de Amadeu Zani, em 1925. Só que esse monumento foi planejado por Prado, licitado por Duprat e foi Washington quem recebeu o bronze, o granito e demais materiais. O monumento demorou 16 anos para ficar pronto por pura burocracia e, a rigor, Firmiano não fez mais do que inaugurá-lo.
 
Não tendo, portanto, nada a dizer neste momento sobre Firmiano Pinto, limito-me a transcrever o que dele diz o livro São Paulo e Seus Homens no Centenário, de 1922. É uma biografiazinha concisa que, por sinal, nada fala sobre seu mandato pelo 8º distrito na última legislatura da assembléia provincial, de 1888 a 1889, até a proclamação da República. Mesmo assim, será, como este artigo inteiro, a única fonte confiável de informações sobre esse enigmático prefeito que se perdeu nas gretas da posteridade:
 
O Dr. Firmiano Pinto, filho de Itú, onde nasceu a 4 de maio de 1861, começou em 1880 a sua carreira pública, no cargo de amanuense da secretaria do Governo. Foi escolhido no ano seguinte para o cargo de secretário da Polícia, e, em 1886, nomeado Juiz Municipal e de Órfãos de Limeira. Eleito vereador à Câmara Municipal de São Paulo em 1894, ocupou, o mesmo ano, o cargo de intendente daquela Capital. Em 1895, o 1º distrito confiou-lhe um mandato de deputado à Câmara Federal, do qual se desempenhou brilhantemente. Foi secretário de Estado dos Negócio da Fazenda e Agricultura do governo do Dr. Campos Salles, e mais tarde, da Agricultura com o Dr. Peixoto Gomide.
 
 
Voltou em 1898 à Câmara Federal, reeleito pelo 1º distrito, onde soube, pela soma de virtudes que ainda hoje o singularizam na vida política de São Paulo, conquistar as mais radicadas e justas simpatias. Foi comissário do Estado de São Paulo na França e Suíça em 1912. Nos períodos intermediários das suas funções administrativas e políticas tem-se dedicado à lavoura.
 
Em junho de 1925, lendo o discurso de inauguração
do monumento de Amadeu Zani.
À esq., o governador Carlos de Campos
O último parágrafo não deixa de ser irônico, considerando como se conduziam as eleições naquela época:
 
Eleito pela primeira vez prefeito desta Capital em 1920, o Dr. Firmiano Pinto de tão bela maneira vem dirigindo o nosso município que não causará estranheza alguma aos que lhe acompanham a trajetória administrativa a sua reeleição para o elevado posto a que em boa hora foi chamado pela vontade inteligente e divinatória dos paulistas.
 
 
Segundo um necrológio doCorreio Paulistano, Firmiano Pinto voltou para a Câmara Federal depois de sair da prefeitura. O golpe de 30, porém, veio encerrar também a carreira de Firmiano, como de praticamente todos os seus colegas de geração, com raras exceções. Ele morreu às 15:45h do dia 8 de fevereiro de 1938.
 
Fonte:O patativa